terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Talvez. Talvez não.

E aqui estou, a tentar encontrar palavras para descrever aquilo que sinto. Palavras essas que não oiço, palavras essas que não vejo, palavras essas que não quero. Ou talvez queira. Talvez não. Olho pela janela e dou a mão à Terra, como a Lua dá à noite escura. Oiço o meu fado e canto, inspiro as minhas mãos para escrever. Não escrevo mais do que aquilo que posso, do que aquilo que quero. Será? Talvez. Talvez não. Sinto o vento na minha cara, como uma flor sente na primavera. A janela aberta traz-me recordações de quando eu era o que já não sou, ou talvez o seja. No fundo ainda o sou, mas talvez não o mostre. Talvez. Sinto o cheiro a saudade a chegar pela janela. Será melhor fechá-la? Talvez. Ou, quem sabe, seja melhor mantê-la aberta. Nem sempre a saudade é triste, nem sempre a saudade é dor. Só o é quando a deixamos ser. Não vou deixá-la. A saudade é a melhor recordação que temos. Recordação daquilo que um dia foi bom, daquilo que um dia foi muito bom, pois se não o tivesse sido, não sentiríamos saudade, mas sim esquecimento. Por isso, sentir saudade é bom. Será? Talvez. Talvez não. Julgo que sim. Sinto a chuva da incerteza a cair sobre o meu rosto. Meu rosto gelado e cansado. Aos poucos fecha os olhos, também cansados por influência. E adormeço, nos braços quentes de uns lençóis lavados, até que acordo no dia seguinte, e tudo se volta a repetir. Ou talvez não.